Lançamento da revista Manuscrítica

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Editorial 
EM OUTUBRO DE 2015, a Associação de Pesquisadores em Crítica Genética se reuniu em Salvador-BA para o XII Congresso Internacional da APCG – “Estudo do Processo de Criação no Século XXI: multilinguismo, multimídia e multi-verso”, uma ocasião privilegiada de diálogo entre diversos grupos de pesquisa do país. Também durante o evento, foi eleita a nova diretoria da APCG: agradecemos à gestão anterior e desejamos dar continuidade ao trabalho, aproximando os grupos e promovendo cada vez mais o trânsito das pesquisas. Esperamos assim que a Manuscrítica – Revista de Crítica Genética seja sempre um ponto de encontro de múltiplos olhares. O presente número é de temática livre: temas e abordagens que passam também por diferentes concepções da Crítica Genética. Interessante notar, no entanto, que a maior parte dos textos que integra esta edição não trata de versões de um texto final, acabado e publicado, mas do caráter do manuscrito, como parte constitutiva do processo criativo: a correspondência, a publicação em periódicos, a influência das leituras de outros autores, os cadernos de anotações. O Fac-símile do Caderno 44 de Marcel Proust é aqui apresentado por Philippe Willemart (Universidade de São Paulo). Parcela do projeto internacional coordenado por Nathalie Mauriac Dyer (ITEM-CNRS), o Caderno 44 traz a terceira versão do Caminho de Guermantes. Em diálogo, um primeiro momento da seção Ateliê gira em torno da obra de Marcel Proust: no artigo “Ficção, escrita, leitura”, Samira Murad (Universidade de São Paulo) convida o leitor a refletir sobre as implicações da estética da recepção sobre os caminhos já traçados pela Crítica Genética, oferecendo como exemplos manuscritos de Georges Perec e Marcel Proust. Carla Cavalcanti e Silva (Universidade Estadual Paulista – Assis) volta seu olhar para a correspondência do autor no artigo “A composição de Em busca do tempo perdido na correspondência de Marcel Proust”, que discute a questão do inacabamento do romance expressa nas cartas do escritor. Em “Os manuscritos de imprensa de Marcel Proust: incursões em um ateliê de escritura jornalística”, Yuri Cerqueira dos Anjos (Universidade de São Paulo) nos coloca em contato com um tipo de produção relativamente pouco explorada dentro do universo proustiano: os textos para periódicos. Da publicação em periódicos às diferentes versões em livro, passando pelas inquietações expressas na correspondência, Milena Ribeiro Martins (Universidade Federal do Paraná/IEB – Universidade de São Paulo) investiga os movimentos de escritura do conto “Bocatorta” no artigo “Manuscritos modernos: análise de um conto de Monteiro Lobato”. O humor de Guimarães Rosa e sua coleção de anedotas são focalizados por Camila Rodrigues (Universidade de São Paulo) em “Anedotários nos cadernos de anotações: uma vereda espirituosa nos manuscritos de Guimarães Rosa”. No Incipit, o texto de Camila Marchioro (Universidade Federal do Paraná) faz uma abordagem diversa dos estudos genéticos: em “A escrita de Camões: Platão e Petrarca e o amor como desejo de Beleza no episódio da Insula Divina”, a autora explora as aproximações possíveis entre a poética camoniana e o universo de leituras do poeta português como elementos fundadores da passagem de Os Lusíadas. A Tradução deste número está a cargo de Rafael Eduardo Franco (Universidade Estadual Paulista – Assis), que nos apresenta “Jacques Lacan, ‘O Outro’ de André Breton”, de Jacqueline Chénieux-Gendron. Neste breve ensaio, traduzido oportunamente para o português, a autora coloca em questão quais seriam as implicações das leituras de Breton por Lacan, invertendo o lugar comum: o poeta influenciado pelas descobertas do psicanalista. Na seção Comentário, um dos principais lançamentos do ano no cenário editorial brasileiro, as Revistas do modernismo 1922-1929 (Imprensa Oficial, 2015), são aqui comentadas por Aline Novais de Almeida (Universidade de São Paulo) e Juliana Caldas (Universidade de São Paulo). Em “Revistas do modernismo 1922-1929: uma caravana editorial”, destaca-se esse evento significativo, mas vai além, ao traçar uma ponte entre o contexto original da Manuscrítica § n. 29 • 2015 Editorial revista de crítica genética 4 publicação das revistas e o da nova edição, um diálogo entre campos literários diversos e distantes quase cem anos. Temos ainda nesta seção a resenha “O óvni que criou um viveiro”, de Lygia Rachel Testa Torelli (Universidade de São Paulo), em que se comenta a publicação dos Archives et manuscrits de linguistes, organizados por Valentina Chepiga e Estanislao Sofía (Harmattan, 2014). A devida exposição da coletânea da equipe Genética e teorias linguísticas (ITEM-CNRS) coloca em evidência a produção consistente da equipe, que tem vínculos com muitos pesquisadores brasileiros. Em um número composto por um dossiê aberto, os textos foram encontrando seus pontos de intersecção, uns mais explícitos, como é o caso do dossiê proustiano, outros mais subliminares, como o suporte para as reflexões e experimentações do autor: o anedotário de Rosa, a correspondência de Lobato ou as cartas e textos para jornais de Proust. A leitura formativa e, de alguma forma, determinante da gênese, é problematizada em pelo menos dois momentos: Camões leitor de Platão e Petrarca; e Lacan leitor de Breton. “No jardim dos caminhos que se bifurcam”, imagem borgiana também recuperada por Yuri Cerqueira dos Anjos em seu artigo, encontram-se olhares diferentes, felizmente, que partem todos da Crítica Genética. Aline Novais de Almeida Maria da Luz Pinheiro de Cristo Viviane Araújo Alves da Costa Pereira